Este é um diário de bordo diferente. São minhas lembranças
de infância e adolescência viajando a bordo de um caminhão com meu pai Rufino
Dalfovo.
Morávamos em Blumenau, no bairro Ponta Aguda, no inicio da
Rua das Missões, que naquele tempo ainda era de chão batido, (o asfalto chegou
pelos anos 70).
Por volta do inicio de 1960, quando eu tinha de 6 para 7
anos ouvimos em casa que papai ia trocar de emprego. Ia deixar de ser
carpinteiro para ser motorista de caminhão.
Numa tarde, escutamos em casa uma buzina forte de um
caminhão e vimos, minha mãe, eu e minha irmã, lá na estrada, papai chegando,
dirigindo um reluzente Ford F600 cor azul e teto branco, com uma carroceria de
madeira. Aquele azul me impressionou tanto que hoje, quando me perguntam qual a
minha cor preferida eu digo que é azul.
Papai
começou a trabalhar para uma empresa madeireira cujo proprietário era ao Sr.
Fernando Beduschi, também residente em Blumenau, chamada Empresa Nossa Senhora do Rosário. Era
uma pequena empresa que começou a explorar madeira numa região montanhosa, em terras
hoje pertencentes ao Parque da Serra do Itajai. O local se chama Encano Alto,
no caminho para o Faxinal do Bepi. Embora fosse município de Indaial, chegava-se
lá pelo bairro Garcia / Progresso em Blumenau, e ficava a uns 30 km do centro
da cidade
Lá neste interior foram abertas estradas pela mata e também foi construída uma serraria, movida por uma caldeira a vapor. O combustível era a lenha produzida pela própria serraria.
Contava meu pai, que no inicio, os operários moravam todos de forma precária em um barracão. Não tinha fogão e a comida era preparada em um caldeirão suspenso por correntes sobre o fogo. Tinha um garoto chamado Hanz, com certo retardo mental, filho do “encarregado”, que era o cozinheiro da turma. Fazia polenta e pão de milho, que cortava as fatias por cumprido ficando umas fatias de todo tamanho. Ninguém acreditava, mas meu pai dizia que à noite o caldeirão servia também para eles lavarem os pés para dormir.
Contava meu pai, que no inicio, os operários moravam todos de forma precária em um barracão. Não tinha fogão e a comida era preparada em um caldeirão suspenso por correntes sobre o fogo. Tinha um garoto chamado Hanz, com certo retardo mental, filho do “encarregado”, que era o cozinheiro da turma. Fazia polenta e pão de milho, que cortava as fatias por cumprido ficando umas fatias de todo tamanho. Ninguém acreditava, mas meu pai dizia que à noite o caldeirão servia também para eles lavarem os pés para dormir.
O caminhão era um Ford F600 movido ainda à gasolina e
enfrentava bravamente uma estrada difícil, cheia de serras, muita pedra ou lama
quando chovia. O roteiro para este interior começava no bairro Garcia em
Blumenau, na antiga Artex, onde terminava o calçamento e asfalto. Pelo caminho
logo ficava a casa e armazém do Sr. Juca Santos, que tinha um Jipe de socorro quando necessário. Ele
também explorava palmito naquelas terras. Daí para frente já era estrada de
terra, embora uma parte bem conservada. Alguns quilômetros para frente,
seguindo o caminho do morro Spitzkopf, pegava-se à direita onde hoje é a rua
Germano Schraiber. Aí já começava a subida da primeira serra de 7 km. A estrada
deserta era boa, mas passava um só carro de cada vez. Tinha dois operários da
Prefeitura de Blumenau, que com uma carroça puxada a cavalo, faziam a
conservação da estrada, fazendo bueiros, tapando os buracos maiores e roçando a
estrada. No meio desta primeira serra morava um genro do Seu Bepi, o seu Vitor.
Ali a subida dava uma folga, andando no plaino umas centenas de metros para
depois continuar morro acima. No alto da serra ficava a divisa de Blumenau com
Indaial. Começando a descida moravam ainda algumas poucas famílias, mas praticamente
todo caminho restante da serra, tanto na subida com descida era deserto, mata
fechada. Não havia moradia. Já no final da descida, do outro lado da serra, encontrava-se
a cabeceira do ribeirão Encano, e tinha uma pequena vila, onde moravam os Tamazia,
(Seu Venâncio e um irmão), morava
também o “Alemão da Vargem” (nunca soube seu nome) e outras famílias. Tinham
plantação e criavam gado. Próximo também já se encontrava a primeira serraria
(”Fega”) junto a uma pequena igreja católica e a primeira escola da região. A
professora desta escola era a dona Martinha Moretto.
A estrada ainda plaina, boa e conservada, continuava até a
próxima serraria da Família Moretto, com uma serra-fita movida por a roda d’água. Havia um pequeno núcleo de casa dos
operários e o proprietário da serraria também morava ali. Daí para adiante
começava uma nova serra, acompanhando o rio, de subida difícil, linda mas perigosa,
cheia de pedras, barrancos, despenhadeiros, que chamávamos de “‘peral”. O
caminhão andava em primeira e segunda marcha uns 8 km. O consumo de combustível
e pneus era alto.
Não havia pontes e a travessia do rio era por dentro da água
mesmo, 10 a 20 m de largura. Algumas vezes meu pai parava no meio do rio,
pegava um balde ou uma lata velha e lavava um pouco a lama do caminho, jogando
água sobre a cabine do caminhão. Era um rio de águas frias, límpidas, correndo
por entre pedras com corredeiras e cascatas.
Enfim, depois de subidas e descidas, chegava-se ao local onde
foi construída a serraria. Tudo girava ao seu redor. O local era muito bonito,
próximo ao rio, com uma linda cachoeira ao fundo. O local foi escolhido a dedo
pelo proprietário, Sr. Fernando. Era o
seu xodó. Logo na entrada foi preservada uma grande árvore de canela, que
precisavam de quatro a cinco homens para abraçá-lo. Quando, depois de uns 10
anos (não se sabe o motivo) a empresa ela foi vendida para outra empresa de
Itajaí chamada Moreira Bastos, a região daí por diante passou a ser conhecida por
“Moreira”. A primeira coisa que os novos proprietários fizeram, foi cortar o
pau de canela. Diz meu pai que o Seu
Fernando ficou muito triste com isto. Seu
Fernando continuou sua vida e não tivemos mais muito contacto. Víamos às vezes
na missa ou ainda na Ordem Terceira Franciscana onde atuava fortemente.
Tanto com o Seu
Fernando como agora na Moreira Bastos, papai saia de madrugada de casa todo
dia, enfrentando este caminho, chegando lá já quase ao meio dia. Aí tinha que
fazer algumas viagens dentro do mato para trazer as toras das árvores cortadas
para a serraria. No mato encontrava-se muita madeira de lei, canela, peroba,
cedro, sendo cortada ainda a machado pelo “farquejador” e puxada até os
estaleiros, à beira da estrada por valentes cavalos. O Sr. Rumold Groni era o
responsável pelos animais e pela equipe de operários encarregados de derrubar
as árvores e preparar as toras. Bem mais tarde chegaram as motosserras e
tratores com guinchos.
Havia uma técnica também para carregar no caminhão as toras
que já estavam no estaleiro. Usando um pau chamado espeque e um gancho chamado gato ou canha, se rolavam as toras com a
força dos ombros. Muitas vezes vi papai carregar o caminhão sozinho. Colocava
umas pranchas fortes e ia rolando as toras, com o espeque como alavanca e
empurrando um calço com o pé, as vezes remontando até 2 ou 3 camadas de toras,
dependendo da grossura delas. Ao final amarrava a carga com uma corrente e
apertava usando um pau cumprido e flexível, geralmente de araçá que ele chamava
de “saprema”. Entrelaçava na corrente e
esticava esta saprema, amarrando na
ponta. Desta maneira a carga, mesmo com o movimento de ajeitamento na viagem,
sempre ficava amarrada. As toras, sempre eram roliças. Eram tortas, com abas,
que papai dizia era uma “diaba”.
A serraria tinha uns 10 operários, que ficavam pouco tempo e
já saíam. O trabalho era muito duro, e levavam uma vida difícil, sem luz
elétrica e trabalhando de sol a sol. As famílias moravam lá. O caminhão muitas
vezes levava e trazia as pequenas mudanças, em cima da carga de madeira. Muitas
vezes fui com papai buscar mudanças longe, longe, de pessoas com experiência em
trabalho com madeira, cada vez mais raras. Às vezes vinham duas ou três
famílias, com moveis toscos, colchão, vaca, cachorro, bicicletas, todo na mesma
carga. As mulheres e crianças na cabine e os homens e eu, é claro, na
carroceria (naquele tempo podia). Eu, sempre que possível, viajava em cima na
carroceria. Gostava do vento do rosto e do cheiro da floresta. A velocidade do
caminhão lá no mato também não passava de 10 km /h.
O proprietário, Sr. Beduschi dava toda a assistência
necessária às famílias. Muito religioso, construiu uma capela na vilazinha que
também virou escola, onde a professora era querida dona Anita Gronni. Tempos
depois, quando eu já tinha meus 13 anos, eu estudava fora de Blumenau, mas
minha família também foi morar lá neste lugar. Foi construído uma casa grande de madeira, com
dois andares e um porão. No “térreo” morávamos nós, tinha também uma sala
grande onde foi a primeira escola e um espaço que mais tarde papai montou um pequeno
armazém. No andar superior existiam
quartos para os operários que não trouxeram a família junto. No porão, ficava o
espaço para os animais, a estrebaria como nas antigas casas europeias. Havia
umas 10 vacas e um touro zebu chamado Zimbro, muito bravo, com uma argola no
focinho. Só papai é que chegava perto dele. Minha mãe, embora nascida no
interior de Camboriú(SC), que tinha saiu cedo de casa para trabalhar numa
fábrica em Brusque com seus 13 anos, voltou às origens. De botina, lembro-me
dela tratando das vacas, tirando leite, fazendo queijo, e também cozinhando
para os hóspedes do andar de cima. Papai, à luz velas ou lampião, lendo ou
fazendo o somatório da cubagem da madeira, sem calculadora. Embora tenha
estudado até o segundo primário, aprendeu tudo pela vida. Tinha uma memória
prodigiosa e raciocínio matemático apurado. Ao dirigir caminhão, como
necessário ao bom motorista, tinha o que chamávamos de ”golpe de vista”, uma
forma perfeita de calcular o ângulo das curvas a fazer para manobrar o caminhão
grande em locais ou ruas estreitas. Mesmo mais tarde, em outros empregos que
teve como motorista, a sua memória era fantástica, sabendo os caminhos e
encruzilhadas pelo interior de SC.
Lá na vila, aos domingos havia pouca diversão. Uma vez por
mês tinha missa celebrada pelo Padre Sílvio da paróquia da Rua da Gloria,
ouvia-se musicas caipiras pelo radinho a pilha e sem televisão. Tinha uma
pelada de futebol e não muito mais por fazer. Dona Anita e o meu pai é que
animavam o lugar, com brincadeiras, competições, corrida do saco e outras
coisas.
O Sr. Beduschi tinha um jipe
verde de quatro portas e muitas vezes ia para o Encano com ele. Na viagem,
rezava sempre o terço, e quem estava junto, sempre tinha alguém, tinha que
rezar com ele. Tinha um trecho da estrada que era um pouco melhor, na primeira
serra e permitia alguma velocidade. No entanto era ainda muito estreita. Papai conta que numa destas viagens, quando
já estavam voltando, o Sr. Beduschi dirigindo morro abaixo, numa curva apareceu
outro carro subindo a estrada. Os dois carros “se espremeram” e por pouco não
bateram, já que os dois estavam em velocidade.
Pois estavam no meio de uma “Ave Maria”, quando o outro carro surgiu na
frente. Aí a oração do Seu Fernando ficou:
“Ave Maria, cheia de graça----Filha da p.-----, O Senhor é convosco.....”, e
continuaram a reza e a viagem.
Noutra feita, contava papai também estavam junto com o Sr.
Fernando, um operário da serraria, o Sr. Herbert e papai. Não se sabe por que,
começou uma discussão entre o Sr. Herbert e o Sr. Fernando, as vozes foram se
elevando e no meio da discussão, o Seu
Fernando, dirigindo o jipe, deu um tapa do rosto do Sr. Herbert, um alemão de 2
m de altura. Espanto geral e Seu
Herbert dizendo: “Pensa que não dói, Seu
Fernando?”. Depois Seu Fernando
explicou a papai que se sentiu desrespeitado. Mas a expressão ficou anos entre
o pessoal e servia de mote quando alguém se sentia ofendido ou se machucado.
Foi neste ambiente e realidade que cresci. Muitas vezes viajava
junto com papai. O caminhão era
transporte, ônibus, correio, ambulância e única ligação daquele lugar distante,
esquecido do resto do mundo. Não existia armazém, nem geladeira. Papai trazia
as encomendas para cada família e o Sr. Lino Piering, que tinha um armazém já
aqui no Jordão/Canto do Rio fornecia para o pessoal arroz, feijão, linguiça e
outros alimentos além de fumo, querosene, pregos e tudo que precisavam. Tudo era acondicionado
em um saco grande de pano e ao final do mês era descontado do pagamento. Às
vezes papai levava cana para alguns animais criados lá próximos à serraria.
Esta cana ele cortava com o facão e carregava sozinho o caminhão. Buscava
longe, às vezes em Gaspar, Ilhota.
Como o caminhão andava muito devagar de 5 a 10 km/hora, gostávamos de viajar na carroceria, sentado em cima das
tábuas serradas. Quantas vezes eu e minha irmã vínhamos cantando as musicas de
sucesso na época, do Roberto Carlos, Jerry Adriano, Wanderley Cardoso e outros.
A “senha” para parar o caminhão era bater no teto da cabine, quando víamos que
acontecia alguma coisa com a carga. Se havia alguém novo viajando na carroceria
e começava a bater sem saber no teto, por brincadeira ou acompanhando a
cantoria, logo aprendia a senha, pois na primeira batida papai parava e
perguntava o que tinha acontecido. No caminho, muitas flores, orquídeas
bromélias, xaxins, mel e frutas silvestres. Lembro-me de uma vagem muito
gostosa chamada “ingá macaco”, pois a forma lembrava um rabo de macaco. A
árvore ficava a beira da estrada, e os frutos baixos logo eram apanhados. Mas
quando o caminhão passava debaixo da árvore, sempre tinha frutos no alto, e
subindo na carga, conseguíamos apanhar.
Era o caminho diário de papai. À noite chegava em casa, as
vezes ainda tendo que descarregar o caminhão sozinho com madeira serrada.
Quantas vezes ele me acordava a noite para ir junto com ele e ajudar. Eu alcançava
a ponta das tábuas na beira da carroceria, onde ficava mais fácil para ele,
tábua a tábua descarregar o caminhão. Aos finais de semana ainda tinha outras
atividades com o caminhão, distribuído donativos que chegavam dos Estados
Unidos na era Kennedy, num programa mantido pela Ação Social Católica da
paróquia Centro de Blumenau, chamado “Aliança para o Progresso”. Lá estavam
Frei Efrém, Maura e outros voluntários. Mas falarei disto num próximo diário de
bordo. (sim, eu também ia junto distribuir por toda Blumenau).
Com o tempo, o
caminhão ia ficando velho, quebrado, batia tudo, mas nada que o meu pai não
conseguisse manter andando. Ele conhecia cada barulhinho que fazia e se ele
ouvia algum diferente ele ia atrás, e às vezes descobria uma lata velha batendo
debaixo do assento. O para-choque dianteiro era um trilho de ferro recurvado. Com
um alicate um pedaço de arame ele fazia milagres, como motorista, mecânico,
borracheiro. Pneu furado e cortado era corriqueiro naquele caminho todo
pedregoso. Quantas vezes papai teve que trocar pneu sozinho, com o caminhão em
subida. No rodado traseiro tinha dois pneus de cada lado e ele ficava feliz
quando furava o pneu externo, pois não precisava usar o macaco. Bastava colocar um calço no pneu de dentro que levantava o
pneu de fora e dava para trocar. O pouco de mecânica que sei, aprendi vendo
papai consertando o caminhão pela estrada e vendo o que ele fazia. Foi neste
caminhão que aprendi a dirigir.
Quando chovia, a estrada ficava intransitável. Às vezes se
colocava correntes nos pneus para melhorar a tração, mas com isto danificava
mais a estrada que já era ruim, usava como último recurso. Para descer uma
ladeira lisa, com lama, o jeito era encostar o caminhão no barranco e ir
freando com dava. Por isso tinha um trilho como para-choque. Existiam subidas
tão íngremes, que o caminhão mesmo em primeira marcha reduzida não conseguia
vencer. Aí tinha todo um artifício para fazer o caminhão arrancar do meio do
morro. Colocava-se atrás dos pneus traseiros uma prancha de madeira, que já
ficava à beira da estrada, formando uma pequena plataforma. Dava-se uma ré
sobre ela, e aqueles 1,5 m bastavam para uma nova arrancada e subir até em
cima. O ruim é que depois tinha que descer e desmontar o aparato e tirar as
pranchas da estrada. Esta imagem sempre me vem à lembrança, quando na vida
temos que dar um passo atrás para podermos ir mais longe buscando nossos
objetivos.
Certa feita foi comprado um caminhão novo e papai ficou
chateado, pois contrataram um outro motorista e ficou ainda com aquele “pau
velho” como ele dizia. Depois o patrão falou que só quem entendia e conseguia
manter aquele caminhão andado era papai.
Serviu de consolo, mas não convenceu.
Assim Papai nestas idas e vindas, trabalhou por quase 20
anos transportando madeira, pessoas, sonhos e ilusões de um povo sofrido,
enquanto havia na madeira na região. Lembro-me do Seu Artur que morreu num acidente com um trator que caiu por cima
dele. O Jovino e seus irmãos que trabalhavam no mato; o Seu Herbert com sua espingarda “pica-pau”; o Seu Maneca Correia, foguista na caldeira, a “Cumadre da minh’alma”,
o Fonga, o Seu Xisto serrador e Dona
Isaura e tantos outros.
Lá pelos anos 70 então, com a madeira acabando, toda aquela
região virou reflorestamento, a serraria foi desativada, a empresa vendida e
papai procurou outro emprego. Foi trabalhar também como motorista, no comércio
de um atacadista no Garcia chamado Genésio de Souza, onde fazia a entregas com
o caminhão. Mas isto é assunto para o próximo diário (Sim, a história continua).
Hoje toda esta região pertence ao Parque do Vale
do Itajaí, abrangendo os municípios de Blumenau, Indaial, Botuverá e Apiúna, Ascurra, Gaspar, Guabiruba, Presidente Nereu e Vidal Ramos. Parte virou reflorestamento e no restante a
natureza está se encarregando de reconstituir o que foi derrubado.
Enfim, esta é um pouquinho da vida de meu pai. Ele nasceu em
Ascurra(SC), foi agricultor até os 18 anos em Ilhota na localidade de Braço do
Baú, onde plantava arroz com meu avo Luciano Dalfovo. Prestou serviço militar no Rio de Janeiro no
“Batalhão da Guarda presidencial”, onde foi guarda pessoal do então presidente
da República General Eurico Gaspar Dutra. Era tradição na época (não se é hoje)
que este batalhão era formado só por catarinenses. Foi lá que aprendeu a
dirigir caminhão. Quando deu baixa do exército, voltou a Blumenau e não quis
mais o trabalho da roça. Começou a trabalhar como motorista com o Sr. Arnoldo
Prim, mais tarde com a Transportadora Blumenauense, onde viajava por este
Brasil com um caminhão Volvo. Levava duas semanas uma viagem a Belo Horizonte. Ele
contava também muitas histórias destas viagens. Casou com minha mãe, Verginia
Rocha em Novembro de 1953. Mamãe, já
grávida de mim, foi junto numa destas viagens.
Quando nasci em 1954, papai parou de viajar e foi trabalhar
como carpinteiro com meu tio Carlos Dalfovo, que estava construído casas de madeira
para alugar, em um grande terrno que tinha no bairro Água Verde em Blumenau, na
época Scharakenbak (em alemão) ou Ribeirão
Jararaca. Trabalhou também como carpinteiro na Construtora Hanne de Blumenau,
onde o encarregado era o seu amigo
José Simão. Trabalhou nesta empresa até 1960. Bem mais tarde um pouco antes de
se aposentar, voltou a trabalhar nesta empresa agora como motorista de caminhão
caçamba. Depois que se aposentou trabalhou ainda como manobrista do
estacionamento das Lojas Hering em Blumenau, onde ficou amigo do Sr. Erich
Staimbach, proprietário da loja.
Ao se aposentar, por volta de 1975, quando casei, ele ainda
foi trabalhar em uma pousada em Araucaria(PR) com meu tio Alfredo Muller e
minha tia Lola, mas ficou meio cigano, morando ora em Curitiba, ora em
Blumenau. Fez algumas mudanças de cá para lá e de lá para cá e nos afastamos um
pouco, sempre perto de minha irmã Goretti. Faleceu em 2004. Hoje sinto a sua
falta e vejo que tinha muito sobre o que conversar com ele. Era um contador de
história e a seu modo viveu uma boa vida, sempre ajudando os outros. Dele herdei a sua careca e, dizem um pouco do seu jeito de ser. Foi isto
que me motivou a escrever um pouco sobre ele. É isto.