Blumenau

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sábado, 18 de janeiro de 2014

Bolinha


Carlos Eduardo Mendonça tinha este apelido pois era muito, mas muito gordo. Bolinha era um apelido carinhoso para quem era um “bolão”.

Nos anos 80 fomos morar em Florianópolis, eu, minha esposa Hulda e filha Taís (lá nasceu o filho André, manezinho legítimo).

Maria Hulda voltou a estudar e a Jô, então esposa do Bolinha,  estudava com ela. Não conhecíamos ele ainda.

Fomos convidados num final de semana para jogarmos canastra na casa do casal. Eles moravam numa casa no Jardim Atlântico. Chegamos ao final da tarde e eles não estavam em casa ainda. Fomos olhar ao redor, jardim etc., e vimos estendidos no varal umas peças de roupas. Havia algumas peças grandes, quase um pequeno lençol, quadradas e não muito bem identificadas. Chegamos mais perto vimos que eram cuecas. Essa foi nossa primeira impressão do tamanho do dono das cuecas. Chegaram depois, fomos apresentados  e começou uma amizade entre os casais. Praticamente toda semana nos reuníamos para jogar canastra. Eu e Hulda não jogávamos mal, mas não sabemos por que, não ganhávamos nunca e perdíamos sempre  “de lavada”.

Assim fomos conhecendo o Bolinha melhor. Ele era jornalista e apresentava um programa de noticias na madrugada/inicio da manhã em uma rádio de Florianópolis.

Numa feita fui até o estúdio com ele. As notícias ele recebia de agências, releases do governo e também recortava literalmente “gillete press” dos jornais do dia. Não tinha Internet ainda nesta época.

Bolinha era bem relacionado com os políticos no governo ou não. Lembro de poucos, mas entre outros, do então deputado Artenir Werner residente em Rio do Sul. Este deputado parecia ser meio “padrinho” do Bolinha. Tinha uma casa de praia em Laranjeiras, Balneário de Camboriú e algumas vezes o Bolinha nos convidou para passarmos o domingo lá com eles. Fomos uma vez de Floripa, todos num Fiat 147, o Bolinha e eu na frente e atrás , a Hulda, a Jô e mais três crianças ( Taís, André e Ariane). Não sei como coube todo mundo. Mas naquele tempo podia.

Tempos depois o casal mudou-se para um apartamento térreo em São José. O apartamento tinha uma porta que dava para a garagem e às vezas colocava-se cadeiras na garagem do prédio e ficávamos papeando ali. Uma vez fomos visitá-los e ele nos esperava na garagem em frente ao apartamento. Segurava uma cadeira e postou-se na frente do carro como se fosse um toureiro. Fui devagarinho encostando o carro na garagem, mas o “toureiro” não saía da frente. Avancei mais um pouco e mal e mal encostei na cadeira que ele segurava. Suas pernas pequenas, pé pequeno, devia calçar 40, mas o corpo avantajado tipo bola, perdeu o equilíbrio e foi um pacote só. La se foi o Bolinha cadeira e tudo para o chão. Ele me olhou assustado, mas depois rimos muito.

Outra feita, foi uma onda do mar que também pegou o Bolinha desprevenido e ele deve tomado alguns goles de água salgado, foi de rolo na beira da praia.

Aos poucos, ficamos conhecendo melhor o senhor Bolinha. Começou conosco, quando ficamos avalista em uma compra de móveis. Sofremos, eu e o lojista para que Bolinha pagasse a conta em atraso. Com muito custo ele pagou. Depois disto, começamos a ver seus problemas, sua compulsão por compras, tanto dele como da Jô. Era um festival de cheques sem fundo, nem sempre cobertos pelos “padrinhos”. Devia ganhar bem, nas assessorias que fazia, trabalhos como “mestre cerimônia”, mas gastava tudo.

Enfim, mesmo com o bom relacionamento acabou sendo preso por estelionato, na penitenciária da Trindade, não lembro ao certo mas deve ter ficado pelo menos um mês na cadeia. Fui visitá-lo um dia com a Jô. Nunca tinha entrado em uma cadeia e a experiência foi traumática para mim que visitava. Imagina que “morava” lá. Celas pequenas, privacidade nenhuma, pouco sol. Não sei se porque era dia de visita, mas pelo menos estava tudo limpo e não cheirava mal.

Depois disto, Jô engravidou e fomos convidados para padrinhos do Fernando Kaio. Jô tinha o apoio da família, Seu Bento, dona Odília,  as irmãs Deise e Maria da Graça.

Mudaram novamente, nós também voltamos para Blumenau em 1984, e perdemos contato com o Bolinha.

Tivemos algum contato ainda com a Jô, que separada do Bolinha tinha outro relacionamento e mais um filho. Morava em Foz de Iguaçu. Fomos até visitá-los Mas depois também não soubemos mais dela.

Anos mais tarde, o empresário Narbal Souza de Balneário Camboriú começou a investir em Blumenau em hotéis e na área de comunicação, fundando a Radio Menina FM. Para nossa surpresa, o comunicador das madrugadas era o Bolinha. Era líder de audiência no horário, bastante combativo. Arrumou um monte de amigos e monte de inimigos.

Bolinha agora vivia com a Léo, professora de educação física em um colégio de Blumenau.  Como éramos padrinhos do Fernando Kaio, fomos convidados a visitá-los. Conhecemos sua nova companheira e um sobrinho dela, Fábio, que viveu com o casal por um tempo,  e aos poucos fomos tendo retomando os contatos.  Vieram convites para novas canastras, convites para participar de eventos da Radio Menina, Oktoberfest, etc.. Conhecemos e fomos até apresentados à cantora Joana num encontro na casa deles.

O estilo de vida continuava. Motorista particular, festas, taxi pra lá e pra cá. Nunca faltava nada na casa. Mas o aluguel não era pago, despejo,  nova casa, novo despejo e contas e mais contas. O preço foi alto e Léo foi mais uma vítima do cheques sem fundo do Bolinha. Não sei como o banco já descontava direto estes cheques do salário dela, ficava meses sem receber nada. Se virava com podia, com trabalho extra, vendendo empadinha, artesanato, babá, caixa na Oktoberfest  e lá vai.

Numa eleição, a Radio Menina ia fazer a cobertura do resultado das urnas. Eu tinha uma empresa de informática e o Bolinha me contratou diretamente para totalizarmos os resultados, em Brusque, Balneário Camboriú e Blumenau. Contratei colegas freelancers, equipamentos, etc. Desenvolvemos programas e montei tudo para dar os resultados. a Apuração foi no Porta Aberta em Blumenau e acabamos montando a mesma estrutura que TRE tinha montado. No entanto, dependíamos da apuração de cada urna, que a Radio ficou de nos passar conforme os boletins assim que saia. Estávamos indo bem, mas mesmo com toda a estrutura montada, as apurações começaram a demorar para chegar. Trabalhávamos com os boletins oficiais. Uma radio da concorrência dava os resultado antes, de forma improvisada mas dava. Por fim ainda a Radio esqueceu que em Blumenau tinha mais um local de apuração montado no Colégio Santo Antonio. Enfim, como noticia e pão quente deve ser na hora, não conseguimos dar os resultados desejados e, tal como noticia velha, não servia para nada. Houve um mea culpa de ambos lados mas o Bolinha não quis pagar nada pelo serviço. Tive que provar depois das eleições que nosso resultado estava certo e igual aos boletins do TRE. Enfim, consegui depois de tempos um cheque para cobrir pelo menos o pagamento dos colegas contratados. Não fiquei devendo nada para ninguém, mas trabalhei de graça por quase um mês.

Depois disto perdemos contato total com o Bolinha.  “Ele foi candidato a vereador em Blumenau, incorporou o ‘Bolinha” no seu nome. Não ganhou as eleições e sumiu de Blumenau. Tempos depois soubemos que estava trabalhando em Balneário Camboriú em uma rádio.

Temos ainda algum contato com a Léo que felizmente deu uma reviravolta em sua vida, casou-se e vive bem com o seu Garibaldo.

Apesar dos pesares bolinha tinha seu instinto paterno elevado. Criou os filhos Maikon, Ariane e Fernando Kaio, primando pela educação nos melhores colégios, não faltava nada para eles. Era muito disciplinado quanto aos compromissos e horários.  Na cidade, também era herói de muita gente que ajudou como radialista. Foi uma figura polêmica.

Interessante que mesmo depois que se separavam do Bolinha, as ex companheiras continuavam o relacionamento conosco. Assim foi com a Jô e sua família, a Léo com sua mãe, o Fábio e por ultimo até o Garibaldo ficou nosso amigo.

Agora em Dez/2013, recebemos a notícia do falecimento do Bolinha. Fiquei sabendo pelo Facebook à noite, sendo que a cremação tinha sido à tarde. Vi outras notícias do jornal, do blog do Tonet, enfim alguns falando bem outros nem tanto. Vimos também  a manifestação dos filhos no Face. Acho que acabou sendo um bom pai.

Bolinha ao final foi para nós exemplo de todas as coisas, do que não fazer e também do que fazer.

Teria ido ao velório, sim, se tivesse sabido a tempo. Queira ou não queira, entrou em nossas vidas e deixou a sua marca.