Carlos
Eduardo Mendonça tinha este apelido pois era muito, mas muito gordo. Bolinha
era um apelido carinhoso para quem era um “bolão”.
Nos
anos 80 fomos morar em Florianópolis, eu, minha esposa Hulda e filha Taís (lá
nasceu o filho André, manezinho legítimo).
Maria
Hulda voltou a estudar e a Jô, então esposa do Bolinha, estudava com ela. Não conhecíamos ele ainda.
Fomos
convidados num final de semana para jogarmos canastra na casa do casal. Eles
moravam numa casa no Jardim Atlântico. Chegamos ao final da tarde e eles não
estavam em casa ainda. Fomos olhar ao redor, jardim etc., e vimos estendidos no
varal umas peças de roupas. Havia algumas peças grandes, quase um pequeno lençol, quadradas e não muito bem
identificadas. Chegamos mais perto vimos que eram cuecas. Essa foi nossa
primeira impressão do tamanho do dono das cuecas. Chegaram depois, fomos
apresentados e começou uma amizade entre
os casais. Praticamente toda semana nos reuníamos para jogar canastra. Eu e
Hulda não jogávamos mal, mas não sabemos por que, não ganhávamos nunca e
perdíamos sempre “de lavada”.
Assim
fomos conhecendo o Bolinha melhor. Ele era jornalista e apresentava um programa
de noticias na madrugada/inicio da manhã em uma rádio de Florianópolis.
Numa
feita fui até o estúdio com ele. As notícias ele recebia de agências, releases do governo e também recortava
literalmente “gillete press” dos jornais do dia. Não tinha Internet ainda nesta
época.
Bolinha
era bem relacionado com os políticos no governo ou não. Lembro de poucos, mas entre
outros, do então deputado Artenir Werner residente em Rio do Sul. Este deputado
parecia ser meio “padrinho” do Bolinha. Tinha uma casa de praia em Laranjeiras,
Balneário de Camboriú e algumas vezes o Bolinha nos convidou para passarmos o
domingo lá com eles. Fomos uma vez de Floripa, todos num Fiat 147, o Bolinha e
eu na frente e atrás , a Hulda, a Jô e mais três crianças ( Taís, André e
Ariane). Não sei como coube todo mundo. Mas naquele tempo podia.
Tempos
depois o casal mudou-se para um apartamento térreo em São José. O apartamento
tinha uma porta que dava para a garagem e às vezas colocava-se cadeiras na
garagem do prédio e ficávamos papeando ali. Uma vez fomos visitá-los e ele nos
esperava na garagem em frente ao apartamento. Segurava uma cadeira e postou-se
na frente do carro como se fosse um toureiro. Fui devagarinho encostando o
carro na garagem, mas o “toureiro” não saía da frente. Avancei mais um pouco e
mal e mal encostei na cadeira que ele segurava. Suas pernas pequenas, pé
pequeno, devia calçar 40, mas o corpo avantajado tipo bola, perdeu o equilíbrio
e foi um pacote só. La se foi o Bolinha cadeira e tudo para o chão. Ele me
olhou assustado, mas depois rimos muito.
Outra
feita, foi uma onda do mar que também pegou o Bolinha desprevenido e ele deve
tomado alguns goles de água salgado, foi de rolo na beira da praia.
Aos
poucos, ficamos conhecendo melhor o senhor Bolinha. Começou conosco, quando
ficamos avalista em uma compra de móveis. Sofremos, eu e o lojista para que
Bolinha pagasse a conta em atraso. Com muito custo ele pagou. Depois disto,
começamos a ver seus problemas, sua compulsão por compras, tanto dele como da
Jô. Era um festival de cheques sem fundo, nem sempre cobertos pelos
“padrinhos”. Devia ganhar bem, nas assessorias que fazia, trabalhos como
“mestre cerimônia”, mas gastava tudo.
Enfim,
mesmo com o bom relacionamento acabou sendo preso por estelionato, na penitenciária
da Trindade, não lembro ao certo mas deve ter ficado pelo menos um mês na
cadeia. Fui visitá-lo um dia com a Jô. Nunca tinha entrado em uma cadeia e a
experiência foi traumática para mim que visitava. Imagina que “morava” lá.
Celas pequenas, privacidade nenhuma, pouco sol. Não sei se porque era dia de
visita, mas pelo menos estava tudo limpo e não cheirava mal.
Depois
disto, Jô engravidou e fomos convidados para padrinhos do Fernando Kaio. Jô
tinha o apoio da família, Seu Bento, dona Odília, as irmãs Deise e Maria da Graça.
Mudaram
novamente, nós também voltamos para Blumenau em 1984, e perdemos contato com o
Bolinha.
Tivemos
algum contato ainda com a Jô, que separada do Bolinha tinha outro
relacionamento e mais um filho. Morava em Foz de Iguaçu. Fomos até visitá-los
Mas depois também não soubemos mais dela.
Anos
mais tarde, o empresário Narbal Souza de Balneário Camboriú começou a investir
em Blumenau em hotéis e na área de comunicação, fundando a Radio Menina FM.
Para nossa surpresa, o comunicador das madrugadas era o Bolinha. Era líder de
audiência no horário, bastante combativo. Arrumou um monte de amigos e monte de
inimigos.
Bolinha
agora vivia com a Léo, professora de educação física em um colégio de
Blumenau. Como éramos padrinhos do
Fernando Kaio, fomos convidados a visitá-los. Conhecemos sua nova companheira e
um sobrinho dela, Fábio, que viveu com o casal por um tempo, e aos poucos fomos tendo retomando os
contatos. Vieram convites para novas
canastras, convites para participar de eventos da Radio Menina, Oktoberfest,
etc.. Conhecemos e fomos até apresentados à cantora Joana num encontro na casa
deles.
O
estilo de vida continuava. Motorista particular, festas, taxi pra lá e pra cá.
Nunca faltava nada na casa. Mas o aluguel não era pago, despejo, nova casa, novo despejo e contas e mais
contas. O preço foi alto e Léo foi mais uma vítima do cheques sem fundo do Bolinha.
Não sei como o banco já descontava direto estes cheques do salário dela, ficava
meses sem receber nada. Se virava com podia, com trabalho extra, vendendo
empadinha, artesanato, babá, caixa na Oktoberfest e lá vai.
Numa
eleição, a Radio Menina ia fazer a cobertura do resultado das urnas. Eu tinha
uma empresa de informática e o Bolinha me contratou diretamente para
totalizarmos os resultados, em Brusque, Balneário Camboriú e Blumenau.
Contratei colegas freelancers, equipamentos, etc. Desenvolvemos programas e
montei tudo para dar os resultados. a Apuração foi no Porta Aberta em Blumenau
e acabamos montando a mesma estrutura que TRE tinha montado. No entanto,
dependíamos da apuração de cada urna, que a Radio ficou de nos passar conforme
os boletins assim que saia. Estávamos indo bem, mas mesmo com toda a estrutura
montada, as apurações começaram a demorar para chegar. Trabalhávamos com os
boletins oficiais. Uma radio da concorrência dava os resultado antes, de forma
improvisada mas dava. Por fim ainda a Radio esqueceu que em Blumenau tinha mais
um local de apuração montado no Colégio Santo Antonio. Enfim, como noticia e
pão quente deve ser na hora, não conseguimos dar os resultados desejados e, tal
como noticia velha, não servia para nada. Houve um mea culpa de ambos lados mas
o Bolinha não quis pagar nada pelo serviço. Tive que provar depois das eleições
que nosso resultado estava certo e igual aos boletins do TRE. Enfim, consegui
depois de tempos um cheque para cobrir pelo menos o pagamento dos colegas
contratados. Não fiquei devendo nada para ninguém, mas trabalhei de graça por
quase um mês.
Depois
disto perdemos contato total com o Bolinha.
“Ele foi candidato a vereador em Blumenau, incorporou o ‘Bolinha” no seu
nome. Não ganhou as eleições e sumiu de Blumenau. Tempos depois soubemos que
estava trabalhando em Balneário Camboriú em uma rádio.
Temos
ainda algum contato com a Léo que felizmente deu uma reviravolta em sua vida,
casou-se e vive bem com o seu Garibaldo.
Apesar
dos pesares bolinha tinha seu instinto paterno elevado. Criou os filhos Maikon,
Ariane e Fernando Kaio, primando pela educação nos melhores colégios, não
faltava nada para eles. Era muito disciplinado quanto aos compromissos e
horários. Na cidade, também era herói de
muita gente que ajudou como radialista. Foi uma figura polêmica.
Interessante
que mesmo depois que se separavam do Bolinha, as ex companheiras continuavam o
relacionamento conosco. Assim foi com a Jô e sua família, a Léo com sua mãe, o
Fábio e por ultimo até o Garibaldo ficou nosso amigo.
Agora
em Dez/2013, recebemos a notícia do falecimento do Bolinha. Fiquei sabendo pelo
Facebook à noite, sendo que a cremação tinha sido à tarde. Vi outras notícias
do jornal, do blog do Tonet, enfim alguns falando bem outros nem tanto. Vimos
também a manifestação dos filhos no Face.
Acho que acabou sendo um bom pai.
Bolinha
ao final foi para nós exemplo de todas as coisas, do que não fazer e também do
que fazer.
Teria
ido ao velório, sim, se tivesse sabido a tempo. Queira ou não queira, entrou em
nossas vidas e deixou a sua marca.